quinta-feira, 17 de junho de 2010

Novas Tecnologias e o pápel do Professor

Artigo publicado no jornal "Folha de S. Paulo" de 22 de março de 2000.



Novas tecnologias e o papel do professor


GABRIEL MÁRIO RODRIGUES

Subscrito por grupo expressivo de intelectuais da época, como Fernando Azevedo, Anísio Teixeira, Roquette Pinto, Cecília Meireles, Menotti del Picchia, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho e outras personalidades, o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, em 1932, propugnava que o ensino, para maior aproveitamento dos alunos, deveria ser complementado, além da biblioteca, por noticiários de jornais, rádio e cinema, meios mais tarde acrescidos pela TV, pelo vídeo e por gravações.

Tais idéias foram efetivamente muito pouco agregadas à sala de aula, ainda hoje contida entre quatro paredes, o quadro negro, o livro e a fala do professor. Contrapunham-se à proposta a comodidade em manter o "status quo", o preço dos equipamentos e da produção e, em particular, o estigma da extinção do papel do professor. Na realidade, tudo significava mais trabalho, mais dispêndio econômico e a quebra das barreiras estruturais. Nestes dez últimos anos, as instituições particulares de ensino fundamental, médio e superior têm priorizado novos projetos físicos em suas instalações, para maior conforto dos alunos. O computador já é um elemento natural ao ambiente escolar, mas a sala de aula ainda está baseada na comunicação oral e centrada no professor.

No momento em que as tecnologias de informação e comunicação revolucionam o mundo, o ensino não pode se constituir na exceção à regra, principalmente quando é notório que o acesso às redes, sejam internas ou a seja própria Internet, é cada vez mais democrático, e os equipamentos necessários, cada vez mais acessíveis. A Internet, "rede das redes", permite contatos interpessoais e acesso a informações em tempo real, quase sem limitações de tempo e espaço. Esse recurso tecnológico pode ser aplicado tanto no ensino presencial quanto à distância, modificando, principalmente, os papéis do professor e do aluno, o foco do aprender no lugar do ensinar e a distinção entre informação e conhecimento. Segundo o professor José A. Valente, da Unicamp, "informação é o fato, é o dado que encontramos nas publicações, na Internet ou trocando informações. O conhecimento é a informação interpretada, relacionada e processada". No paradigma antigo, o professor ensina quando transmite a informação ao aluno e este consegue memorizá-la. No atual, o aluno aprende quando constrói o conhecimento interagindo no mundo dos objetos e das pessoas. Deixando claros esses conceitos e principalmente a mudança (não a extinção) da figura do professor, a transformação educacional vai ocorrer, não porque a escola assim o deseje, mas porque a geração de crianças entre 8 e 12 anos hoje navega com facilidade pela Internet. Bem orientadas, essas crianças são capazes de interpretar informações e aprender sozinhas. Como o diploma não é mais um fim, a escola que não ficar atenta a essas mudanças sucumbirá. O advento da Internet, síntese das mídias, tende a transformar a aula presencial, não só pela argumentação acima, mas principalmente pela quebra das barreiras de distância e tempo. Hoje é possível reunir, pela rede, alunos de cidades e países diferentes. No Brasil, tal metodologia é aplicada tanto na escola secundária como na universidade. Faculdades e universidades estão implantando a sala virtual no ensino presencial. Todo o programa de uma disciplina, seus objetivos e o desenvolvimento das aulas estão no computador. Os trabalhos e as pesquisas feitos pelos alunos, suas indagações, os grupos de discussão, enfim tudo interage enquanto o professor orienta e acompanha, para que todos possam aprender. Dentro do mesmo princípio, salas estão sendo organizadas para reunir as propostas de trabalho de diretores, coordenadores e professores no espaço virtual, o que nem sempre se mostra possível no espaço real. Há instituições que eliminaram os laboratórios de computação. Os alunos possuem laptops e, em qualquer parte da escola, estão plugados ao mundo. Disciplinas de maior conteúdo teórico podem ser adequadamente preparadas, orientadas e fornecidas à distância. Em Stanford (EUA), as aulas são gravadas e, ao seu término, já estão na Internet. Quem faltou as recupera. No momento em que o ensino presencial transforma-se pela tecnologia, viabiliza o ensino à distância. As tecnologias de rede e outros recursos pedagógicos podem ser complementados por revistas, artigos de jornais, livros, áudios, vídeos, CDs e videoconferências, tal como um dia imaginaram os formuladores da Escola Nova em 1932. A transmissão da informação é construída dia a dia, de uma nova maneira, com conteúdos apropriados. Estamos, portanto, diante de nova pedagogia, em que o ensino e a aprendizagem estão centrados na tela e no novo papel do professor, a quem cabe a função de orientar. No Brasil, país de extensão continental, esse novo contexto pode vencer os desafios de criar recursos humanos mais bem preparados.

A tecnologia facilita a transmissão da informação, mas o papel do professor continua e continuará sendo fundamental para auxiliar o aluno a construir o conhecimento. Os que não entenderem essa nova realidade correm o risco de ser substituídos por uma máquina. O professor que trabalhar mais como um facilitador será insubstituível e inesquecível, como até hoje é, para qualquer um de nós, a figura da primeira professora.


Gabriel Mário Rodrigues, 67, arquiteto, é reitor da Universidade Anhembi Morumbi, presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo e vice-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior.

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